Xica Margarida

Há várias espécies a habitar um ginásio. Já me cruzei com elas. E vou dá-las a conhecer. Tirá-las das trevas do ginásio onde habitam.

A primeira classe: os demónios. Convivo com um (embora poucas vezes) quando tenho aulas de localizada ou essas coisas que fazem doer muito. Ele é um verdadeiro demónio. Ele sabe, quem convive com ele sabe e até acho que só quem tiver a assistir a tamanha brutalidade vai dizer: tenho a certeza que aquele rapaz é um demónio. Eh pá, não pensem que ele está possuído por algum espírito do mal. Não, a questão é que o homem mexe-me de uma maneira sobrenatural. E é de tal forma difícil acompanhá-lo que só o posso classificar de demónio. E ainda por cima está sempre a sorrir, com aquela cara de quem aquilo não custa nada. Olha, meu caro (caso percas algum tempo a ler isto) aquilo que tu me mandas fazer custa horrores e eu não faço metade, imagina se fizesse tudo! Este demónio nem mesmo sem voz deixa o pessoal descansar. Arranja sempre forma de conseguir infernizar uma gaja.

A segunda classe: os ratos. Eh pá, a miuda mexe-se de tal maneira que até mete impressão. Ela pedala, ela levanta-se, ela grita. E eu penso: mas ela não se cansa. Não é normal. Uma gaja, dez minutos depois do início da aula, já não sabe sequer como se chama e ela está ali fresca como uma alface e aos saltos como se não houvesse amanhã, que é como dizer mais 35 minutos de aula. E outra coisa: tenho cá comigo que ela nem transpira. Aqui a menina mal se senta na bicicleta começa logo a suar em bica, a outra pode pedalar um dia inteiro que mantém o mesmo ar de fresca como uma alface. Alguém me ensine a fazer isto. Será que depois de perder os 354 mil quilos que me faltam a coisa melhora? Ou será que vou parecer sempre um tomate a ser esmagado com as grainhas a sairem por todas as costuras possíveis?

Depois há vários tipos de bichos, mas terei que aumentar a frequência a tal local para poder continuar com uma dissertação correta sobre o assunto. Ainda assim, os dois exemplos que dei acima são assustadores. Personalizei-os por ser mais fácil escrever sobre eles, mas qualquer dos monstros que dá aulas naquele local se pode inserir nas classes acima descritas. Naquele local do demo todos têm um pouco de demónio e de rato. (Ai eles vão gostar tanto de mim se lerem isto!!)

Mais tarde poderei também debruçar-me sobre os frequentadores do local que, como eu (ou não), tentam espremer a gordura para um local imaginário e nem sempre conseguem. 

Escrevi aqui há coisa de um ano um texto sobre uma espécie em vias de extinção caracterizada pelo gosto dos domingos. Os domingueiros, esse belo exemplar da espécie humana. Agora debruço-me sobre um parte específica dessa espécie. Sim, porque o domingueiro é de tal modo complexo que se decompõe em várias subespécies. Desta vez vou falar sobre a Brigada da Naftalina. 

A Brigada da Naftalina é aquele domingueiro mais velho, já avô e avó, mas que acompanha os filhos e netos ou não no passeio do domingo. Eles saem de casa depois de terem enfardado o assado de domingo. Saem já com a pancinha composta para não terem de gastar dinheiro por fora. Sim, porque a Brigada da Naftalina não gosta de gastar dinheiro inutilmente. Já encheram o bucho em casa, já não precisam de ir comer lá fora. Eles enfardam tudo o que podem ao almoço para aguentarem até ao jantar sem ter que comer mais alguma coisa. Então ao jantar enfardam mais um bocado do assado da manhã e dormem satisfeitos.

A subespécie de domingueiro sai de casa com a roupa de domingo. E a roupa de domingo só é usada naquele dia. A Brigada da Naftalina não gosta muito de estar sempre a lavar a roupa de domingo porque se estraga. Então usa-a e usa vezes sem conta. Então se for no Inverno ainda melhor que nem transpiram nem nada. Deste modo, os membros desta espécie vestem a roupa que guardam num dos 25 guarda-fatos lá de casa de uma semana para a outra. A roupa está cuidadosamente guardada para não se estragar (eles não compram roupa desde 1985 para poupar). Eles usam Naftalina para que as traças não comam a sua preciosa indumentária de domingo. E aqui reside o grande facto: eles cheiram a Naftalina. Por onde eles passam o cheiro fica. É impressionante como é possível mas o cheiro característico fica em todo o lado. Conhecem-se logo pelo cheiro e conhecem-se uns aos outros pela indumentária e pelos mesmos hábitos. Eles vão ao Continente ao fim do dia só mesmo para passar o tempo. Alguns há que já vão também ao Lidl, agora mais a meio da tarde porque o sol põe-se mais cedo e eles têm que ir para casa para a roupa não apanhar orvalhada. 

Ah e já referi que têm 25 guarda-fatos para apenas duas pessoas. É que como não compram roupa desde 1985 têm que a ter bem acondicionada. E guardam tudo. Até mesmo o que os primos afastados de França já não querem eles aproveitam e acondicionam tudo nos seus belos guarda-fatos. Claro que pelo meio metem três quilos de Naftalina para as tramadas das traças não fazerem vítimas, que é como dizer não estragarem o belo do vison que a prima da França trouxe e que é de pelo de rato. Não se usa, mas ele está ali no armário para um qualquer dia que me queira armar em franciu e sair com um pelo de rato enfiado no corpo e impressionar com o cheiro a Naftalina. Guardam também as vestes dos filhos desde o baptismo até ao casamento e, por vezes, até mesmo depois. As roupas que o filho lá consegue tirar dos seus quatro ou cinco armários mas não consegue deitar fora por ser filho da Brigada da Naftalina. A dúvida é: será que o filho também irá pertencer a esta brigada quando for avô? Será que também ele vai ceder à Naftalina para conservar o fato do casamento de há 35 anos? Será que também ele vai começar a guardar a roupa dos filhos? E, por fim, será que também ele vai guardar o belo do fato de treino que estreou num qualquer domingo há 25 anos atrás mas que ainda está como novo?

É verdade, já emagreci 20 quilos!! 

(Os espaços são prepositados. Desta vez não é um erro de gente azelha com blogs).

Sim, psicologicamente já emagreci 20 quilos!! A verdade é que tenho ido ao ginásio e os demónios dos professores são de tal ordem que quando as aulas terminam a minha sensação é a de que emagreci 20 quilos, tamanho foi o esforço. Na realidade a balança ainda não se mexeu desde que recomecei depois do verão, mas psicologicamente já foram menos 20 quilos. E isto é muito importante. Parece que não mas ter emagrecido psicologicamente dá-me força para continuar a ir ao ginásio. Isto porque penso: se desta vez emagreci pelo menos 20 quilos, da próxima isto vai custar menos. 

Ora a 20 quilos duas vezes por semanas, em algum tempo desapareço. Se calhar o melhor é refriar as idas ao ginásio. Ou então tentar emagrecer menos psicologicamente...

Eu até ia escrever sobre outra coisa, mas acabei de ler uma noticia que dizia qualquer coisa como o seguinte: Irina Sahyk grávida? Portanto, a questão é que a pobre da miúda deve ter comido mais do que uma ervilha ao jantar ou então cometeu a loucura e comeu uma francesinha e a seguir uma boa dose de castanhas assadas. O que lhe aconteceu? O mesmo que acontece a nós, comuns mortais, ficou inchada! Mas só porque a pobre da moça, que anda sempre lisa como um carapau (quis dizer magra, não sem dinheiro), agora apareceu com uma leve pretuberância na zona da pança já está prestes a parir trigémios. Vá-se lá perceber isto. 

A foto de que falo está aqui.