Conversa de futebolista
Cá por casa ouve-se e vê-se muitas vezes futebol. Não é que eu queira mas como partilho a televisão com o homem tenho que aceder de vez em quando a alguns programas futebolísticos. O problema é que mal as pessoas começam a falar dizem sempre a mesma coisa. E eu pergunto: porque é que se continua a fazer entrevistas a jogadores de futebol? Já se sabe que o resultado é sempre o mesmo.
Atentem!
Começamos pelos tiques: todos, mas todos coçam a orelha, o nariz, o pescoço ou o queixo quando falam. É no preciso momento em que começam a falar que começam a ter comichão. O que vale é só nestas partes do corpo. Se bem que, como as entrevistas geralmente só mostram a cara, eles bem que podem estar a coçar outras coisas e nós em casa não conseguimos ver. Mas pronto, primeiro tique: coçar alguma parte do corpo.
Depois todos olham para o horizonte em vez de olharem para o entrevistador. O olhar o horizonte tem alguma de intelectual, devem pensar eles. Assim, talvez o que vamos dizer faça mais algum sentido. Segundo tique: olhar o horizonte.
Finalmente, o cabelo. Essa grande montra dos jogadores de futebol. As horas passadas nos cabeleireiros da vida para terem aqueles cinco minutos de entrevista. Sem bem que agora também já há todo um arsenal para as sobrancelhas. Mas voltando ao cabelo: há os que o usam impecavelmente penteado com gel e os que preferem afagá-lo a cada duas palavras que dizem. Dizia eu que eles passavam horas nos cabeleireiros da vida, nada disso, os cabeleireiros da vida é que passam horas em casa deles porque estes meninos não põem os pés num salão. Não vá aparecer um fã com vontade de o abraçar. Terceiro tique: cabelo.
Depois dos tiques vamos aos discursos: invariavelmente dizem sempre o mesmo. Quer ganhem quer percam. Eles são ensinados na academia a dizer umas cinco frases e pronto. Depois disso dizem-lhes: vai para frente das câmaras que já te safas. Então é assim: o jogo foi muito difícil, o adversário estava bem organizado, fizemos tudo ao nosso alcance para a vitória, sabiamos que iamos encontrar dificuldades...
Ou seja, falam sem dizer nada. Sem esquecer que enquanto dizem isto coçam alguma parte do corpo, olha o horizonte e afagam o cabelo. Portanto, não podemos pedir mais. Certo?